A vez dos destinos domésticos na retomada do turismo no Brasil

Logo após o início de 2020, quando no hemisfério sul as pessoas ainda desfrutavam do entusiasmo e da animação do verão, o mundo experimentou uma crise sem precedentes, com impactos na saúde, na economia e nas sociedades. Vivemos uma pandemia e para conter a propagação do novo coronavírus foi preciso parar as viagens e confinar-se, o que confronta diretamente com o setor de turismo, responsável por mais de 10% do PIB global e um em cada dez empregos no planeta.

Segundo dados da World Travel and Tourism Council (WTTC), mais de 121 milhões de empregos estão sendo afetados no setor global de viagens e turismo, com perda de U$ 3,4 trilhões no PIB mundial. No Brasil, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) estima a ocorrência de perdas acumuladas de R$ 153,8 bilhões no período que vai da segunda quinzena de março até o fim de julho, com previsão de lenta recuperação até o final de 2020.

Embora o caminho a nossa frente ainda pareça vago, a adoção de uma série de medidas de prevenção ao contágio do novo coronavírus em terminais de passageiros, hotéis, aviões e ônibus vem permitindo que as viagens sejam, aos poucos, retomadas no país. Nos empreendimentos administrados pela Socicam, onde implementamos um rígido protocolo de biossegurança por meio da campanha Embarque Seguro, temos observado o retorno gradual de passageiros aos terminais.

É certo que os desafios para a recuperação do setor são inúmeros, mas a partir da união e ação cooperada é possível converter parte desses efeitos em oportunidades. É o caso, por exemplo, da valorização do turismo doméstico, pois as circunstâncias impostas pela crise sanitária (fechamento de fronteiras; preocupação com os voos longos; e a fuga de ambientes fechados) conferem mais atratividade para viagens de curta distância.

Pesquisas recentes apontam como tendência as preferências por viagens familiares, previsíveis e confiáveis, o que significa que as férias domésticas e as atividades ao ar livre nortearão o comportamento do consumidor no curto e médio prazo. Assim, espera-se que os brasileiros busquem viagens com distâncias menores, ideais para serem percorridas de ônibus ou em curtos trechos aéreos. Temos, portanto, uma boa oportunidade para alavancar o setor de turismo no país, valorizando a diversidade e a riqueza de nossos destinos nacionais.

Outro fator preponderante para a retomada do turismo é a adoção de medidas de proteção sanitária e de saúde por toda a cadeia de serviços. Nesse sentido, destacam-se as iniciativas que visam certificar os prestadores de serviços a partir de protocolos universais de combate à Covid-19. Citamos o selo Safe Travels, criado pelo WTTC, que permite aos viajantes reconhecer os destinos e as empresas que implementaram medidas protetivas alinhadas às recomendações das autoridades de saúde global. Recentemente esse selo foi concedido à Rodoviária do Rio, no Rio de Janeiro. Há também o selo Turismo Responsável, lançado no início de junho pelo Ministério do Turismo e que já foi solicitado por mais de 12 mil prestadores de serviços turísticos no Brasil.

Para além de padronizar as medidas protetivas de combate à Covid-19, essas certificações são importantes para despertar a confiança dos turistas brasileiros, uma vez que a chancela das autoridades traz mais tranquilidade nesse momento de retomada das viagens. Outra linha de atuação que visa preservar o emprego e renda de pessoas que trabalham com o turismo é a promoção de campanhas. O movimento Supera Turismo Brasil, que a Socicam também integra, é um bom exemplo.

É evidente que, assegurados os devidos cuidados e garantida a prontidão para ações de correção, se necessárias, está dada a oportunidade de incentivar o turismo doméstico. É preciso direcionar esforços de recuperação do setor para inspirar os brasileiros a explorar atrações e destinos próximos. É chegada a hora de o Brasil ser o destino de viagem dos brasileiros.

 

Lorena Macedo Rafael Dantas, Coordenadora de Comunicação